segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ao grande poeta Pessoa

          Quanto mais penso, mais perceboe e entendo o que Pessoa queria dizer com " pensar é estar doente dos olhos" ... e nada como uma corrida as 6 da manhã, com o orvalho nas plantas, o cheiro de asfalto molhado, as poucas pessoas circulando nas avenidas e praças, tão cheias de vida, tão cheias de particularidades, dores, alegrias, sofrimentos, ilusões, das quais eu jamis conhecerei, assim como não conhecerei o toque de todas as plantas e folhas pelas quais passo durante a corrida ... que as vezes até se chocam contra mim, e me causam uma sensação tão doce de liberdade, de natureza, de vida ... E ainda que eu pense sobre todas essas pessoas e plantas, que em algum momento, cruzaram meu caminho, ainda sim, sinto como se eses pensamentos pudessem me libertar ... Ora, não é um pensamento sobre mim, mas sobre o mundo ... é como ver com a alma, e nesses momentos não me sinto doente dos olhos, ao contrário, sinto que essas pequenas partículas de gotas de chuva que caem sobre mim, e sobre os guarda chuvas ansiosos e aflitos, e sobre as plantas de maniera calma, lenta e generosa ... ahh ... quando essas gotas caem e tocam meu rosto, eu me sinto tão completa, tão preenchida, como se Deus estivesse mais perto de mim ...
É como sentir o enlace de um gato a se enroscar entre suas pernas, enquanto você está apenas em algum lugar da cidade, tomando um vinho numa calçada da Vila, e aquele simples gesto natural de um bichano, te traz de volta ao mundo que realmente importa, às coisas que realmente valem a pena ... sei que é apenas um bichinho carente em busca de um prato cheio de leite e quem sabe uma cama para se deitar ... mas  oh meus amigos, não somos todos assim? Quantas vezes escrevi sobre a carência humana, quantas vezes já não vi atitudes tão mais instintivas do que a do pobre gatuno, mas do que isso importa?  Racionalizar isso, é estar doente dos olhos e da alma, por que no fundo o ser humano é tão frágil e simples, quanto qualquer pobre felino por aí , a diferença está na necessidade e desejo de cada um. O bichano tem suas necessidades, o ser humano desaprendeu o que é isso, tem apenas desejos e impulsos. Nada além disso.
Eu do meu lado, estou semrpe observando as pessoas, dividindo com cada uma que passa por mim, um pouco de suas histórias, e algumas vezes, um pouquinho da minha ... E entre dry martines, vinhos, filmes, e corridas com chuva, me percebo cada vez mais, e tentando não pensar ... Penso ...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Por que viver é uma eterna descoberta

Viver o presente, sonhar o futuro, esquecer o passado. Nessa estrada perigosa chamada vida, cada passo uma expectativa, e cada curva uma nova dor, alegria, esperança....E nada mais como repentinamente, essa estrada tão bem pavimentada que é a vida, se transforma numa estrada de terra, e o caminhar torna-se dificil e massacrante; nos nossos pés abrem-se feridas profundamente doloridas, como chagas; nas nossas mentes brotam  questões do porquê d tanta dor? Mas a estrada continua, intacta, não há o que fazer além de percorrê-la, pois a esta altura, não há mais como voltar ou parar. O caminho parece acostumado à nossa presença, e acabamos por caminhar de maneira automática: olhos bem fechados pela dor, coração bem protegido pela desilusão, e tão logo somos apenas andarilhos cobertos com uma mortalha inerte ao mundo.
Nesse momento crucial, nossos pés maltratados conseguem sentir o toque sutil de uma flor, ainda que pequena, suficiente para amparar sob suas petalas , pés tão cansados, proporciona um alivio , que só se pode compreender se tenta visualizar um longo bocejo de preguiça; e esse gesto natural e casual de cuidado e afeição, nos abre os olhos, e então vemos estupefatos, que na verdade nosso caminho jamais fora de pedras, era nosso coração amiantado, que tocou as flores e as sentiu pedras, que andou pela encosta do verão de sol forte no rosto, e sentiu as trevas, e só no ponto mais alto da dor é que o mal se extinguiu , se partiu em milhoes de pedaços, permitindo a sensação da ultma flor. Porque esperar chegar às portas da morte, para perceber que ão se viveu?
Ahh Deus, que o meu pesar possa subir aos céus e acariciar a face suave de todos os anjos; que a minha dor possa ser acalentada e aliviada pelo olhar doce de uma criança, e assim, quem sabe, um dia minha vida possa ser aconchegada nos braços eternos e apraziveis do paraiso.

Inspirado em Augusto dos Anjos

 É deprimente chegar a conclusão de que, embora a contragosto, somos todos parte de uma sociedade capitalista e negligente, onde somos apenas números,máquinas, clientes e consumidores...
  Desde que era criança carrego comigo muitas dores do mundo. Dores pelo descaso. Dores tão profundas como feridas abertas, e a medida que fui crescendo tive medo de passar a participar disso, de me acostumar com as tragédias humanas, tive medo até, de um dia, nem saber mais quem eu era, de estar tão perdida a ponto de não saber mais nem de mim, quem dirá dos outros. Mas ao contrário dos meus medos infantis, minha guerra contra esse mundo passou a aumentar conforme fui crescendo, e hoje a dor e incálculavelmente maior! Ser adulta nesta sociedade, requer um esforço sobrenatural, requer muita atenção e cautela, mas ao final das contas, vejo que tudo é em vão. A necessidade de sobreviver mostra que o ser humano possui um instinto, eu diria, quase assassino, que mata muitos por fome e uma minoria por indigestão.
   A vida perdeu o sentido completamente, corremos tanto em busca de sonhos financeiros e paraísos aquisitivos, e o que temos não nos satisfaz, queremos sempre mais e mais.  
  Eu não quero muito. Quero ter tempo para ajudar, quero costurar a boca insaciável deste círculo vicioso chamado dinheiro, preciso de paz!!! Estar assim me entristece, sinto-me inútil, impotente. É dificil entender por que viver tornou-se um genocidio. Viver é um crime contra toda a humanidade já que para tal somos capazes de qualuqer coisa. Já que para termos futilidades a disposição, somos capazes de matar, vender, prostituir, dissimular. Tudo hoje tem um preço e está a venda para quem possa comprar, tudo está em exposição nesse imenso mercado chamado mundo. Há pessoas que me consideram estranha, timida, vulgar, arrogante, mas a verdade é que cada um vê a sua própria imagem, por que precisamos acreditar que somos iguais. Quando se trata de sujeira, escuridão e solidão.
   Eu sou o que sou, nem boa nem má, digamos neutra, afinal nenhuma das minhas opiniões tem valia a não ser para mim mesma, e talvez seja por isso que me habituei a escrever, a dizer sem que me perguntem, ou a calar e ouvir tudo que já sei.
  No fundo, alimento uma ponta de esperança de que, nós seres humanos, podemos ser bons. A idéia de que nossa essência é má, não me parece verdadeira. Se somos a imagem e semelhança de Deus, há de existir bondade em nossos corações, tão marcados e revestidos de amargura e poeira por tanto mal cuidado, e por tanto tempo. Acordemos para ver e sentir o calor do sol! Vejamos as flores, as árvores, as pessoas. Convidemo-nos uns aos outros para um passeio à tarde, onde possamos ficar deitados na grama, nostálgicos e saudosos de nossa infância! Talvez ainda haja tempo!!! Digamos "Eu te amo" quantos vezes houver sentimento e vontade, o tempo passa tão depressa. Amar é uma dádiva sublime.É possivel sim vivermos em comunhão, mas é necessário que se queira do fundo da alma.É preciso manifestar essa essência que carregamos camuflada. Preciso de ajuda para provar a mim mesma, pelo menos, que a existência humana não é uma falha, mas sim uma virtude.
   Que os olhos se abram e possamos enxergar os outros como se fossem nós mesmos. Sentir a fome, a frio, a dor, o desprezo como se tal acontecesse a cada um de nós. Talvez possamos achar no espelho o único possível responsável por esta mudança tão esperada por mim. Tente !

Para refletir

Creio no mundo como num malmequer. Por que o vejo. Mas não penso nele, porque pensar é não compreender... o mundo não se fez para pensarmos nele ( pensar é estar doente dos olhos), mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque a amo, a amo-a ´por isso, porque quem ama nunca sabe o que ama, nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência, e a única inocência não pensar...